26.4.02

Finalmente online o primeiro manifesto da Resistência ao M&M (restaurante por quilo da região da Vila Olímpia). Apreciem com moderação.


Introdução

Comer é uma necessidade básica do ser humano. Se não nos alimentamos ao longo do dia, cedo ou tarde nosso corpo definhará e partiremos desta para melhor. Comer, então, mais do que uma necessidade é uma obrigatoriedade.

Trabalhar não chega a ser uma necessidade básica, mas talvez possamos classificá-la como necessidade secundária. Se não trabalhamos, cedo ou tarde nossa conta bancária definhará e partiremos para debaixo da ponte. Trabalhar, então, mais do que uma necessidade secundária é um dado de realidade.

Quando juntamos as duas necessidades acima, comida e trabalho, o resultado é a chamada "hora de almoço". Comer para trabalhar, trabalhar para comer. Todos nós partilhamos desta dupla de verbos e suas conseqüências em nossas vidas - para não falar de nossos estômagos.

Então chegamos ao âmago da questão: onde comer? As opções são muitas. Podemos deixar um mês de salário em qualquer Leopoldo da vida ou um dos rins no cachorro-quente da esquina. No fundo, o que diferencia um lugar do outro é o custo, em outras palavras "quanto de nosso dinheiro estamos dispostos a gastar para comer e ganhar mais dinheiro". Claro que sempre escolhemos o mais barato, seja por mera economia ou masoquismo mesmo. Esta é, aparentemente, a gênese do M&M. Aparentemente.

Reconhecendo o inimigo

Não se enganem com a versão de que o nome "M&M" é composto das iniciais dos donos do estabelecimento. Vejam bem, esta é a primeira estratégia de desinformação: tentar convencer-nos de que aquilo é algo familiar, feito com muito amor e carinho. Não caiam nessa.

Na verdade, M&M deve ser entendido como M ao quadrado - mais exatamente "morte" ao quadrado - porque eles tentam te matar primeiro na entrada e depois na saída. Não há como contestar esta teoria. Pense em todas as vezes em que você foi almoçar no M&M, naquele cheiro indefinido que infesta o lugar. Aquilo é um veneno poderosíssimo, feito da combinação infernal dos odores tanto dos alimentos quanto dos frequentadores. Muitos já caíram devido a esta tática desleal, inspirada diretamente pelas câmaras de gás nazistas.

O segundo M é aquele provocado pela ingestão dos alimentos “by M&M”. Você pensa que aquilo é frango à passarinho, mas na verdade é um implante intro-intestinal de tecnologia russa, utilizado há décadas pelos países da Cortina de Ferro como instrumento de controle mental (daí aquela expressão “pegar pela barriga”) e notório pelas diarréias épicas no meio da madrugada. Sua mais conhecida vítima é Boris Yeltsin. A verdadeira função do implante no esquema nefasto do M&M será discutida no próximo parágrafo.

OBS: Vale ressaltar que a adição do álcool ao implante quadruplica sua intensidade. Agora aposto que aquelas garrafas de “objeto verde não-identificado” e catuaba posicionadas tão “inocentemente” ao lado da fila já não parecem tão deslocadas…

Indo mais fundo no Império do Mal

Como o leitor já deve ter suspeitado, o pessoal por trás do M&M é muito mais do que uma cooperativa de homicidas gastronômicos. Eles, na verdade, querem simplesmente dominar o mundo. As duas tentativas de assassinato tão exemplarmente simbolizadas pelo nome são um mecanismo de seleção artificial, destinado a eliminar aqueles que não se encaixam nos novos padrões alimentícios envisionados pelo “Novo Regime”. Assim, permanece vivo apenas quem é considerado apto para o processo de assimilação – já devidamente inscrito no Programa de Controle Mental.

Aqui cabe uma advertência. Não nos iludamos ao pensar que esta organização criminosa é inofensiva só porque possui apenas uma filial. O McDonalds começou exatamente assim, como os mesmos objetivos, e só não conseguiu realizar o seu intento (adivinhe qual) graças à luta subterrânea e solitária da Resistência. Viveríamos num mundo onde toda a culinária regional seria declarada ilegal e as únicas vestimentas aceitas aquela roupa ridícula do Ronald McDonald. Sim, é assustador. Mas o que nos reserva um mundo governado pela mão de aço do M&M é muito pior. A culinária regional será mantida, porém tudo terá o mesmo gosto indeterminado. Serão proibidos cozinhar em casa, comer em restaurantes e até fazer um Toddy no meio da noite. Tudo isso porque o mecanismo de dominação do M&M está contido na comida – e dela depende para sua perpetuação.

Retroceder nunca, render-se jamais

Está nas suas mãos a salvação da Humanidade. Não caia vítima da sedução do preço, do pé direito baixo, da aparente “informalidade” do M&M. Lembre-se quem eles realmente são. E o que querem fazer com VOCÊ.

É melhor perder um rim no cachorro quente da esquina. É melhor perder o almoço e comer o dobro na hora do jantar, na segurança de casa. É melhor gastar mais dinheiro e ter que trabalhar mais para tapar o buraco no orçamento. Estas são todas contra-medidas consagradas na luta contra o Império do M&M. Não é preciso pegar em armas para fazer parte da Resistência. Basta não comer lá.

Esta é uma hora crítica. Os números dos freqüentadores do M&M aumentam exponencialmente. Faça a sua parte e contribua para um futuro livre, limpo e saboroso. Faço votos de que a ameaça M&M seja neutralizada a tempo.

Que Deus tenha piedade de nós.

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Conde de Montecristo IV
Comandante Geral da Resistência

24.4.02

Falei com o Nemonox para ele dar uma olhada no blog, ele olhou e disse: faltam links. Hipertexto já! É que eu não sabia como colocar links. Sou meio anabafeto de HTML. Mas agora eu sei. Aguardem. Enquanto isso, valeu Nemo!

Lembram que eu havia dormido só 3 horas e meia de segunda para terça-feira? E que tinha deixado meu status de animal para abraçar a causa mineral? Eu mal sabia o que me esperava. Depois de algumas horas de trabalho, até mineral eu deixei de ser. Que sono, que preguiça, que merda! Eu mais parecia um PC-XT chapado, uma ameba sem destino. Simplesmente não dava para pensar. E criar. Eu trabalho com publicidade (sim, eu sei que vou pro Inferno) e não conseguia escrever nada que prestasse. A coisa ficou realmente crítica.
Ainda assim, no meio do pântano que se tornou o meu cérebro (olha que figura de linguagem legal) brotaram alguns títulos interessantes. Se isso não é talento, eu juro que não sei o que é. E o dia passou, a noite chegou e eu fui para a faculdade. Foi o último dia da Mostra de Curta-metragens da FAAP. Eu tenho que admitir que o nível das produções aumentou assustadoramente. Nem parece FAAP - tem muito mais cara de USP, indício claro de que a última está realmente em decadência. Dois filmes são sensacionais: "O Telepata", uma adaptação de uma peça (eu acho) do Plínio Marcos e "Bípedes", digamos que um "Magnólia" verde-amarelo. Os dois são absurdos, de uma profundidade e sensibilidade totalmente incomuns para cinema universitário. "O Telepata", por exemplo, usa a estética do cinema marginal (Boca do Lixo e etc) para contar a estória de um telepata idoso, que sobrevive fazendo shows "de mentirinha" em um cabaré (a auxiliar de palco dele é uma prostituta!); já "Bípedes" mostra uma cena de sexo explícito forte até para padrões pornôs, além de retratar com muito senso crítico a hipocrisia da burguesia paulistana e a realidade totalmente surreal em que a gente vive. Estes foram os Oscars, mas também merecem ser mencionados "O Presente", ainda que muito publicitário, "Como comi Darlene" (idem) e "Nervos de Aço", um musical feito sob medida para ganhar os Festivais GLS da vida. Teve também o curta do Flávio Dezorzi, vulgo "Gláuber" faapiano, mas eu tenho que admitir que não tenho muita paciência com este tipo de filme. Dá vontade de falar "Vai fazer uma terapia, porra!". Não digo que não tenha méritos artísticos - tem, e de sobra. O Flávio é sim uma das "revelações" da FAAP. Eu só não sei por que ele se prende nesse negócio de Cinema Novo (que está mais para Cinema Velho hoje em dia). Fico imaginando como serão as produções verdadeiramente "autorais" dele.
Para finalizar, já que a essa altura do campeonato já devo ter matado uns 15 de overdose literária (o que é impossível, porque dos 7 pageviews desse blog pelo menos 6 são meus ;) vou falar um pouquinho de um filme que eu curto pra caramba: Batman, o Retorno (1992). Da última vez que peguei ele, parei logo no comecinho - e a última antes dessa tinha sido em Laserdisc (sinônimo: fóssil tecnológico). Não terminei ainda, mas já topei com diversas coisas que nunca tinha reparado. O filme é profundo pacas, fala de um monte de coisa nas entrelinhas - como por exemplo a "crise de identidade" do homem-morcego, derivada do ainda imbatível "Cavaleiro das Trevas", de Frank Miller. O lance dele e da Mulher-Gato também tem muito subtexto - coisas para se pensar. Mas tirando de lado o aspecto "cerebral" da coisa, o filme ainda é um tesão de assistir. Cenografia 10, ação 10, tudo 10. Aquele batmóvel MARAVILHOSO. Meu, eu queria ser o Batman só pra dar uma voltinha no bicho. Só um passeio curto, daqui até a Sibéria...

23.4.02

Segunda feira passou batido total... Fiquei trabalhando e depois simplesmente esqueci do blog. Acontece. Mas hoje eu me redimo. Vou falar de um assunto que muito me interessa. Música de videogame. Pronto, falei.
"Ah, seu nerd." Olha, vocês podem calar a boca. Que atire a primeira pedra quem não passou horas jogando nintendinho, master system, mega drive e snes na infância... E na adolescência... E com 21 anos. Tá, com 21 anos talvez seja um indício de nerd. Anyway, estou falando tudo isso porque passei a madrugada de ontem (das 11 da noite até as 3 da matina) baixando TODOS os jogos de mega drive de uma página e ouvindo as trilhas sonoras num stereo maravilhoso... Alto pra caramba. Acho que esse é o verdadeiro samadhi - ouvir as suas música de infância nas versões originais, com caixas JBL e um subwoofer porcaria, mas que quebra bem o galho, saboreando cada nota, cada instrumento sintetizado. Foi muito bom. Tão bom que "esqueci" que tinha que acordar às 8 da manhã para trabalhar no dia seguinte... O que explica meu atual estado mental de mineral (muito pior que vegetal, que já é lesado por natureza). Mas como eu me diverti... Sabe aquelas horas em que é simplesmente DO CARALHO ter Speedy, um joystick com 10 botões, 60GB de disco e mais de 400 roms do seu videogame de infância? Aquele que foi roubado do seu sítio por uns filhas da puta, depois de anos de convivência e muita nostalgia? (eu explico essa história outro dia) E tive uma idéia: vou extrair o áudio original de obras-primas como Streets of Rage, Streets of Rage II, Golden Axe, Street Fighter II Champion Edition, Road Rash e montar um CD. Puta, como vai ser bom escutar no carro estas músicas... Já tô até ansioso. E podre, absolutamente podre de sono.
Update compacto de relacionamentos: M. está estranha. Novidade. V. está na Bahia. Fuck. E eu estou sozinho - na caça, por assim dizer.

21.4.02

Vou colocar alguns trabalhos aqui. Coisas produzidas. Coisas que falam alguma coisa do que eu gosto e/ou acredito. Vocês podem me mandar um e-mail xingando, se for o caso.



Análise: 3 minutos de Cabo do Medo (1991)

Timecode inicial: 1:13:36
Timecode final: 1:17:30
Capítulo (DVD): 12

O trecho escolhido é aquele em que Max Cady é atacado por três homens ao sair de seu Mustang vermelho.

A sequência começa com Cady saindo de seu carro, após estacioná-lo de frente a uma parede de tijolos. Scorsese opta pelo uso da grua, primeiramente pegando o carro de um ângulo superior centralizado (para situar o público) para depois descer focalizando a lanterna traseira esquerda. Em seguida, Cady ouve alguém chamá-lo e, ao virar-se, é atingido por um taco de baseball na boca do estômago. Este primeiro ataque é tão súbito que não temos tempo de ver quem é o atacante. Dramaticamente, o público é pêgo de surpresa juntamente com Max e acaba, inconscientemente, identificando-se com ele – aproximando-se ainda mais dos fatos. Temos então um trecho curto em que a montagem torna-se cada vez mais frenética, através de cortes rápidos e irregulares. O resultado é uma carga de tensão sempre crescente.

Utilizando então o recurso da câmera no ombro – uma forma muito eficiente de aumentar a veracidade de qualquer cena – Scorsese coloca-nos no meio da ação e somos forçados a participar do espancamento. No meio da confusão surge um dolly in violento, cuja função é enfatizar a presença de Sam Bowden na cena do crime, mostrando ao público o nervosismo do personagem. Dele voltamos para a ação primária. A grua volta a ser usada, e vemos Cady caído no chão, rodeado pelos três atacantes. É então que o dolly in citado anteriormente chega ao seu final, com um close up fechadíssimo de Sam, que pensa que está tudo terminado.

É neste momento que muda novamente a estratégia do diretor. Recapitulando; no início foram utilizados grua, câmera no ombro e montagem rápida para enfatizar a tensão da sequência, intercaladas. Agora, no entanto, Scorsese busca uma aproximação maior do que um close up – e a única forma de se fazer isso é através do PDV ou POV (Ponto de vista / Point of view). Assistimos à reação de Max tanto através de seus olhos quanto dos agressores e testemunhamos a virada de jogo num estado de confusão mental e emocional. Isto acontece porque já havíamos nos identificado com Cady quando começa o espancamento, a despeito deste ser o “vilão” da história, e agora experimentados uma satisfação ao vê-lo vingar-se que nossa consciência ou superego com certeza condenam.

A sequência divide-se em duas instâncias: de um lado Max Cady; do outro, Sam Bowden. Sam esbarra na lata de lixo e Cady começa a suspeitar de que ele está lá. Esta situação específica – alguém estar escondido e subitamente chamar a atenção para o seu esconderijo – é um clássico dos filmes de suspense, porque mexe com o que há de mais instintivo no ser humano. Scorsese não relaxa a mão e faz uso exemplar dos planos e contra-planos distantes, ameaçando constantemente “denunciar” a presença de Bowden. A dramaticidade é tão forte que sentimos aquela desconfortável sensação do tempo “parar” numa hora inoportuna.

Ao final, Max não descobre Sam. Mas isto não faz a menor diferença, pois ele “sabe” que Sam estava lá. A sequência termina com um close de Sam, colado na lata de lixo, tremendo de ansiedade e medo. Scorsese utilizou tão bem as ferramentas da montagem nesta sequência específica que praticamente tornou desnecessária a trilha sonora. Só ouvimos os ruídos da luta (muito bem feitos, por sinal). Um sinal claro de que o diretor tinha consciência do que devia ser passado através das imagens e do som, evitando a “contaminação” de um pelo outro.
Antes que alguém se assuste com o título do blog: no começo era só "confraria", mas eu sentia que faltava alguma coisa. Se alguém já desconfiou, sou cinéfilo de carteirinha e também estudo cinema na FAAP (quinto semestre, à noite). Sou viciado naqueles filmes de Hong Kong cheios de tiroteios heróicos e sangue para todo lado, principalmente os filmes antigos do John Woo. Taí, "Confraria de Assassinos"!
Tá, vocês podem não achar a idéia tão brilhante assim. Vocês tem esse direito. Pelo menos até eu ter mais PUDERRR!!!
Bem, aqui começa mais um blog. Acho que todo começo é meio igual, né? Então não vou ficar tentanto inovar e acabar falando um monte de merda... Vou poupar vocês dessa.
Depois desse início promissor, acho que deu para perceber que o meu humor não tá dos melhores hoje. Estou um pouco de ressaca, só um pouco mesmo. É mole descobrir que o seu corpo de repente não quer mais saber de álcool?! É como um dia não conseguir mais assistir tv, ou ir no cinema. Um prazer a menos. Não consigo mais beber nada em balada. Quando muito, cerveja. Vodka, uísque (ou whisky para os puristas), nem pensar. Alguém devia ter me avisado que o corpo pode pregar umas peças dessas na gente.
Mas não é só isso. Na última balada, o Skol Beats deste Sábado, tive (mais) uma decepção amorosa. Fucking great. Pelo jeito esse ano vai ser aquela beleza em matéria de relacionamentos. Primeiro S., minha ex-namorada de 8 meses e litros de lágrimas, depois V., meu atual alvo (que está trabalhando fora do Estado e só volta em 1 mês) e agora M., mal-resolvida amizade colorida de mais de 5 anos... Como dizia aquele personagem de desenho animado (que eu não lembro quem é) "Oh vida, oh azar..."