11.5.02

Sejamos lacônicos novamente (sim, estou com preguiça):

B) Ela me exigiu distância;

Consequentemente...

C) Irei preservá-la.

A conclusão é uma só: a energia que eu iria gastar na luta por ela será canalizada para um nobre objetivo: minha felicidade pessoal. Fiz tudo o que podia; até exagerei. De que adiantam heróis se aqueles em perigo não querem salvação? Ela já deixou tudo para trás, então tenho que fazer o mesmo. Simples assim. Só falo uma coisa: fuck it.

10.5.02

Tem algo muito estranho acontecendo comigo: pareço estar tendo explosões súbitas de energia, como as tempestades solares, intercaladas por uma melancolia pegajosa. Observem: ontem o dia começou super devagar, tudo acontecia em câmera lenta. Almocei e quase chorei na hora de pagar a conta, por exemplo.
Então, de volta à agência, sentei no sofá e meditei por uma hora, mais ou menos. Comecei a melhorar e, de repente, tive uma iluminação. Ou melhor, uma daquelas explosões nucleares a que eu me referia no primeiro parágrafo. Olhei para o passado sem julgá-lo e me dei conta de que tudo de bom que aconteceu entre eu e S. não teria acontecido se eu não tivesse sido "louco" diversas vezes. Esse deve ser o segredo do verdadeiro amor - entrega absoluta sem dependência absoluta. Então, decidi lutar até a última gota de sangue e só parar se:

A) Estiver exausto;
B) Ela me implorar e/ou exigir distância;

Enquanto restarem coisas ambíguas e energia, continuarei lutando. Resultado: passei o dia ansioso, esperando a hora de sair do trabalho e aparecer de surpresa na casa dela, para nós jantarmos juntos e conversar. Adivinhem o que aconteceu. A mãe dela me disse que ela não estava em casa e que "ia chegar tarde". Fuck. Aí fui direto para a casa da amiga dela, P. Fiquei lá meia hora, esperando. Na minha cabeça, se ela saiu com amigas só podia estar com a P, porque ela não tem mais nenhuma amiga próxima. Fuck, again. Elas não iam se ver aquele dia - S. estava ilocalizável, para variar. Então finalmente desisti e voltei para casa. No caminho consegui falar com ela do celular. Ela vai me ligar hoje.

Pareço um alucinado, né? Eu sei. Cheguei à conclusão de que o meu Marte está muito mais ativo do que o normal. E Vênus também, que é sensibilidade e amor em geral. Me pergunto se eu errei ontem; se não deveria ter ido para a faculdade e ponto final. Por incrível que pareça, no entanto, acho que agi certo. Ou você luta pelo amor ou desiste de amar. E se torna infeliz. Tenho que esgotar esse amor dentro de mim, de uma forma ou de outra. Mas como fazer isso sem atropelar a S. e preservar a minha sanidade?
O caminho é um só, e deve ser seguido à risca. Vamos a ele:

A) Lutar até o último fio de cabelo para tê-la de novo comigo;
B) Independente do ítem A, tocar a minha vida em todos os sentidos. Não devo ficar esperando por ela ou criando situações de ansiedade;
C) Preservá-la. Não invadir seu espaço, respeitar suas decisões;

Sei que os ítens acima parecem brigar entre si mas é essa a beleza da coisa. São antinomias. E essa palavra complicada, que é uma mistura de paradoxo com opostos que coexistem simultaneamente, é a base da lógica do coração e, por sua vez, do amor. Só falando a língua desse amor posso botar ordem na casa - o negócio é "fogo contra fogo" mesmo.

Interlúdio espiritual: Deus, eu sei que sou um chato e fico te pedindo coisas o tempo todo. Mas insisto, já que você disse "Peças, e receberás". Por favor, ilumine cada ato e cada pensamento meus. Me mostre o caminho com um coração, a melhor opção, sempre. Prometo que tentarei ler os teus sinais e não sempre seguir em frente feito um bode entupido de anfetaminas. Pronto, interlúdio espiritual encerrado.

Mudando absurdamente de assunto, finalmente assisti à "Cidade dos Sonhos" (Mulholland Drive), do David Lynch. O título nacional até que é adequado, mas conta demais do filme. Mas como estou com preguiça neste exato momento e não pretendo perder meus dedos de tanto digitar nessa merda de teclado, não vou analisá-lo agora. Só digo duas coisas: primeiro, o filme é um TESÃO e as duas atrizes principais também merecem o mesmo adjetivo. Segundo, para variar, você não vai entender nada se não tiver entendido "Estrada Perdida" (os poucos que entenderam, diga-se de passagem). Então esse é o meu conselho: Lynch só fala por símbolos. Seus filmes são verdadeiros tratados de psicologia - tudo é projeção e fantasia. Num próximo post, prometo que dou a minha explicação. Yo me voy, ahora. Hasta la vista.

9.5.02

Resolvi ler de novo a trilogia "Conversando com Deus". Algo me chamou de novo para os livros - acho que a minha alma. São impressionantes, todos. Com uma linguagem simples e direta, conseguem passar conceitos complicados como a origem de todas as almas, o tempo, o destino. E também mostram um Deus muito humano, um paizão que é só amor, não julgamento. Preciso deste Deus. Esse negócio de querer me manter sozinho, com a minha energia e ponto final, não tá dando muito certo. Preciso de um pai lá no alto (em sentido figurado, até porque o meu pai é alto pra caramba ;).
Essa estória com a S. mexe demais comigo. Às vezes dá vontade de estapear o meu coração, encher ele de porrada e dizer "Desencana, porra!" Mas não consigo. O amor consegue ser uma benção e uma maldição ao mesmo tempo. Parafraseando o último post, resta apenas esperar a chuva passar, ou torcer para que germine alguma coisa. Estou meio down. Muito longe da depressão, mas down assim mesmo. Eu devia ter escolhido o nível de dificuldade "easy" antes de entrar nessa joça.

8.5.02

Tá bom, eu sei que havia dito que iria seguir em frente com a minha vida. Mas não posso deixar de postar aqui um dos textos mais bonitos que já escrevi até hoje, dedicado a minha ex-namorada. O texto nasceu na noite do último Sábado, num momento de muita saudade, dor e esperança. Acho que daí é que vem a sua beleza. Só o amor é capaz de produzir algo assim.

Reencontro

A chuva sempre estava lá. Talvez fosse um símbolo de momentos em que o coração falava mais alto. Talvez fosse apenas o tempo mesmo. Mas ele sabia que as gotas que mergulhavam do céu, meio suicidas, sempre anunciavam uma grande dor. Seu coração chorava – e com ele as nuvens daquele mesmo céu. Algumas vezes choveu no começo de um novo amor, naquele período indefinido em que euforia e desespero se misturam. Outras, nos últimos dias, nas últimas horas, naqueles resquícios de paz tão duramente abandonados. Esta era a primeira vez que chovera durante toda uma relação. No começo sofrido, em quase-fins, recomeços, finais agoniantes e agora, no último e difícil recomeço, aquele agraciado pela maldição de uma maior consciência... aliada à saudade enlouquecida.

Estava parado sob uma árvore, com um abismo logo à frente. Era noite. Ela parecia estar além desse abismo, imersa em nuvens para ele negras e inacessíveis. Só que não estava esperando por ele; surgia pensativa, tranquila, longe. Era isto, e não a distância, que o matava por dentro. Porque ele sabia que era responsável por tudo. Por ela. Pelo amor cativado a duras penas, pela guilhotina e pelo pincel. “Como pode a chuva trazer simultaneamente visão, aperto, ajuda e alento? Como é possível que a Natureza saiba sempre a perfeita intensidade das gotas cálidas, o tom exato dos corações dos homens?!” Ele chovia por dentro. E tentava escutar o que a chuva lá fora tinha a dizer.

Queria pular no abismo. Melhor morrer lutando por ela, envolto nas ondas violentas da paixão, do que apodrecer na morosidade do superficial. Ele grita por ela; ele arqueja o peito numa nota de desejo furioso e cai ao chão, cobrindo o rosto com o cabelo despenteado. Então ela vê seu desespero, de longe, e aproxima-se em sua nuvem. Ele se surpreende, olha para o alto. Não são nuvens negras. E, absurdo, por trás destas existe um Sol.

O vento dá voltas em torno dos dois. Ela traz nas mãos uma pequena caixinha chinesa, vermelha. Ela sorri. O vento grita junto com ele, ajudando-o. “Sejamos dois a rasgar a terra com a nossa voz!... S. !” Ela olha-o nos olhos. Uma lágrima desobediente desce pelo rosto, caindo sobre a caixa. No fundo, trovões e raios assistem ao espetáculo de duas almas que se amam, lutando para reencontrar-se. Então a caixa mostra vontade própria e deixa a mão dela. Cruza o ar, a chuva, recebendo um empurrãozinho do vento. Vai parar nas mãos dele, sujas de terra. Ele a abre e nada vê. É então que uma luz suave começa a sair da caixa, caminhando pelo seu peito até tocar seu coração. Ela diz “De um amor que antes envolvia o mundo restou apenas esta caixa. Foi tudo o que pude guardar, depois da última grande tempestade.” Ele chora de alegria. Aquele átomo de amor é tudo o que ele precisa. Primeiro surge um, depois dois, seis, dez, vinte, logo são centenas de milhares de vagalumes iluminando os dois.

A caixa não está mais lá. No peito dele vibra uma energia vermelha, tendendo para o rosa. Um raio menos sutil escorrega no horizonte, desastrado - já são muitos assistindo. Sobre um monte de areia, o Tempo pisca os olhos para ele. Diz, baixinho “Não precisa ter medo de mim. Sou parte de você. Siga em frente, e só olhe para trás para relembrar momentos felizes”. Em outro canto, de pé sobre um canteiro de flores, está a Esperança. “Você já tem o amor em seu peito. Do que mais precisa? Não deixe esse amor parado. Espalhe-o pelos quatro cantos do mundo... e veja as trevas converterem-se na luz mais pura.” Ele levanta-se, passa a mão na grama, e olha para ela. Desce do céu Vênus. Aproxima-se dela e lhe diz, no ouvido. “Os homens estão fadados a amar. E errar. No fundo, a única diferença entre viver esse amor e não vivê-lo são as suas escolhas. É mais fácil escolher sabiamente do que perder um amor. Meu dom é teu.” É nesse momento que ele sente que precisa agir. Nada mudará se permanecer parado sobre a grama. Sorri para ela pela última vez, dá alguns passos para trás, respira fundo e começa a correr. Cada vez mais rápido. Cada vez mais decidido. E, sem pensar, entrega-se ao abismo.

Ela se assusta e grita o seu nome “Luis!” Não entende o que ele está fazendo. Não quer sua morte. Ele começa a cair. Ela vai até a beira da nuvem e estica as mãos, desesperada, suas lágrimas indo de encontro a ele. Ele cai. A chuva se enfurece. Os trovões, antes pacíficos, protestam do alto de sua majestade, fazendo tremer a terra. Aqui e ali estouram labaredas de fogo branco provocadas pela revolta dos raios.

Tudo acontece em câmera lenta. Passam por sua mente imagens de uma Felicidade absoluta, agora refém do Tempo. O vento tenta carregá-lo, não consegue e protesta para as árvores, chorando brisas. Agora a vida dele é do mar. O mesmo mar responsável pela chuva, pelas lágrimas e pela corrente de emoção que aproximou os dois. No entanto, o mar não o quer desta forma. Não quer para si a responsabilidade de matar um amor.

Então irrompe do oceano uma onda gigante, uma coluna maciça de água na direção do céu. O vento abre os olhos, pára de chorar e junta-se ao mar, dando forma à coluna. Já os vagalumes concentram-se e, num esforço quase divino, brilham como não o faziam à milênios, em homenagem. Ele cai sobre a coluna de água, não se machuca, e começa a ser levado até ela, ainda atordoado. A Natureza se une e cria uma sinfonia, uma ode ao amor verdadeiro. O mar o deixa carinhosamente sobre a nuvem dela. Ele está desacordado. Ela o olha de perto, passa os dedos sobre sua face. E o abraça com força. Por um segundo, muito mais do que um recomeço estava ameaçado. Uma vida, de fato, esvaía-se diante dos olhos dela – sangrando pelo coração. Ele acorda, e a beija. Os raios unem-se e fazem um círculo de energia em torno dos dois. A noite torna-se dia. A chuva, antes furiosa, se acalma e os acolhe com uma garoa delicada. A energia é tanta que ilumina até mesmo as sombras internas de cada um, perdoando-as.

A estória ainda não acabou. Quem poderá dizer que um amor desses tem fim? Nem Deus é capaz de pôr fim a um amor, pois Deus é amor absoluto, eterno, incorruptível. Deus, quando amamos, se mostra ainda mais presente dentro de nós.

Este texto é um testemunho do meu amor por você, Gata. Te amo acima de mim mesmo. Quero você comigo. Sou teu. Vamos continuar a estória, do nosso próprio pulso... É o convite que eu faço a você, do fundo da minha alma.



E a menina bonita que trabalha na produtora 6 andares acima está com depressão há alguns anos. Um ex-namorado morreu nos braços dela - 3 tiros, numa noite sombria em Ribeirão Preto. Tem outro namorado há 4, fala o que o cara veste, escolhe que ele come e (acreditem) diz se ele pode sair ou não... Conclusão: não vou pegar nem celular.
Sinto saudade da S., mas saudades normais. Estou tocando minha vida, colocando as coisas em ordem. Desde já peço a Deus por uma namorada mais normal, e me comprometo a ser mais "íntegro" e mais forte. Quero ser feliz. Vou deixar S. para trás, pelo menos como mulher. Eu sei que consigo. Só preciso dar tempo ao tempo e deixar o velho coração respirar um pouquinho. Talvez seja V. essa nova mulher. Talvez não. Mas enquanto isso vou tentar viver a vida com alegria e verdade, e eliminar de vez todos os defeitos responsáveis pelo fracasso com S. Tragédia grega, de novo, não obrigado!
Já em outro universo paralelo, comecei finalmente a gravar meu CD de trilhas sonoras ORIGINAIS de videogame. Está duca. Faltam Golden Axe 2 e Skitchin' (acho que é assim que se escreve), mas o resto dos clássicos está todo lá, em glorioso estéreo. Que delícia. Este sim vai ser um CD raro e para ouvidos MUITO selecionados - provavelmente apenas os meus ;)

7.5.02

Oi. Este é um começo de post lacônico. Lacaniano, não. Lacônico mesmo. Porque eu falei muito nos últimos posts. Exagerei. É. Eu sou muito verborrágico. Exagerado. Prolixo. Enrolado. Metido a escritor. Em suma, um chato (parece título de filme da nouvelle vague). Tá bom, eu paro. Juro.
Voltando ao normal, a grande novidade do dia é que recebi uma mensagem de V. no meu celular. Uma legítima SMS (não, não é Sega Master System). E vocês não vão acreditar: ela sonhou comigo. Disse que adorou me conhecer e tal. O que será que dá em uma mulher para ela escrever um negócio destes assim, de repente? Será que terminou com o namorado? Ou que está sentindo a minha falta? E olha que eu não falo com ela há mais de uma semana! Que mistério, meu caro Watson!
Quanto a S., prometi e decidi que vou deixar ela em paz. Lógico, sinto saudades, mas tenho que respeitar o que ela me pediu. E está acontecendo uma coisa engraçada; agora que sei MESMO que fiz tudo o que podia, sosseguei. É como se tudo só tivesse terminado de fato neste último domingo. Muito estranho. Agora, as únicas dores que sinto - e que deixo aflorar, sem medo - são as de um fim de namoro "normal" . E olha que o relacionamento foi tudo menos isso... Vai entender. Momento filosófico: cada dia tenho mais certeza de que se tivéssemos aula de educação emocional (ou coisa parecida) no colégio, o número de suicídios e da depressão em geral seriam muito menores. Essa sociedade em que a gente vive - monetária, superficial e racional ao extremo - massacra a emoção e acaba produzindo muito mais infelicidade do que felicidade propriamente dita. Eu senti isso na pele. O único jeito de enfrentar as dificuldades da vida sem afundar é entender e deixar fluir as emoções. Esta foi apenas uma das (dolorosas) lições da última semana.

6.5.02

Update rápido, já que estou sem muito tempo. S. - acabou de vez. Ela não quer mais nada comigo em termos de relacionamento. Temos a nossa conexão espiritual, a "maldição do corpo", carinho, etc e etc, mas não confiança e disposição. Isso resume a coisa toda. Pelo jeito, o negócio é a longa jornada sozinho mesmo. Estou me resignando; fiz tudo o que um homem pode fazer para recuperar uma mulher e mais um pouco. Usei de todas as armas. Se depois disso tudo ela ainda prefere ficar sozinha, é uma opção dela, assim como eu optei por terminar dois meses atrás. É duro, mas a vida é assim. Ficou aberta, pelo menos, a porta para uma amizade colorida, ou com "todas as cores" como eu defini uma vez, antes do namoro. Vamos ver o que acontece. Eu só peço um pouco de paz para o meu coração; ele já sangrou e gritou demais. Preciso descansar.
E como o dia está sendo movimentado, temos mais um furo: meu estágio vai acabar de fato no dia 18. Minhas cagadas também tiveram seu preço. Lógico que existem razões objetivas, desde o próprio programa de estágios até falta de espaço mesmo. Mas não estou destruído - óbvio que queria continuar, mas vou aproveitar esse "break" publicitário para me voltar para o cinema novamente. Estou com uma coceira criativa que pode acabar em coisa boa... Quem sabe, um Revés II (para quem não sabe, é o documentário responsável pela minha bolsa na FAAP).
Desde já agradeço aos meus amigos, aos meus pais e a Deus e seu exército de anjos pela ajuda na última semana. Hoje deve ser o primeiro dia em que meu coração não dói tanto, só um pouquinho. E isso, sem eu reprimí-lo, o que é ótimo. Um abraço para todos. Obrigado.