17.5.02

Presente para vocês: uma resenha crítica. Ah, não façam essa cara de criança que ganha roupa do Papai Noel. Juro que tá bem escrito - só não garanto que alguém vá ter um orgasmo com o texto ;)

A República dos Argonautas
Luis Eduardo Garcia Levy

O período da ditadura é tido como um dos mais negros na história do Brasil. Enquanto alguns mal se recordam da censura e costumam espalhar aos quatro ventos o quanto o país era “organizado” naqueles tempos, outros trazem no prório corpo as marcas da repressão militar - e as carregam por toda a vida. Foi um período de muita dor, perseguições, assassinatos políticos e as infames torturas, estas com lugar garantido na memória de todo mundo. No entanto, o curioso é que foram justamente as décadas de 60 e 70, quando a censura e a violência do governo atingiram seu ápice, que originaram movimentos como a Bossa Nova, a Tropicália, a Poesia Concreta e o Cinema Novo, indiscutivelmente as mais criativas manifestações de talento da história recente. Nunca a cultura brasileira fora tão reprimida e, ao mesmo tempo, tão brilhante, a ponto de destacar-se na cena cultural do resto do mundo. Sem dúvida, tais manifestações foram essenciais para a retomada da democracia – e o último prego no caixão da ditadura.

Nesse contexto temos A República dos Argonautas, de Anna Flora. Através das recordações de uma menina de 14 anos (que pode ser fictícia ou não), a autora dá um testemunho pessoal do que teriam sido os últimos momentos da ditadura, mais precisamente o ano de 1979. O livro é escrito de forma coloquial, como um diário, e cobre a chegada à semi-inexplorada Vila Madalena de um grupo de estudantes da USP, a República dos Argonautas do título. Só que Anna Flora não cede à tentação de apenas escrever um “Confissões de Adolescente contra a Ditadura” e mistura habilmente a trajetória da protagonista e seus novos ídolos com os heróis da mitologia grega. Assim, utilizando-se da conquista do velocino de ouro como metáfora da conquista da democracia, a autora acaba expondo de forma muito clara o panorama político da época - talvez até demais.

A intenção de Anna Flora é evidente ao longo da leitura. Não satisfeita com uma apreensão apenas intelectual dos valores em destaque – o espírito de comunidade e a participação política – a autora investe também no terreno emocional e pinta todas as situações em tons sépia, como folhas amareladas em um livro centenário. Tudo é luminoso, artístico, gracioso. A Vila, sem meias palavras, é o Paraíso na Terra; cada situação tem um quê de nostalgia, de amizade e compaixão. Até mesmo os trechos mitológicos são impregnados deste espírito – Anna Flora conta a estória de Jasão através da voz da protagonista, resultando em gírias, coloquialismos e adaptações variadas, necessárias para a junção das duas estórias no final do livro. A moral da estória é óbvia: aqueles que resistiram à ditadura foram verdadeiros heróis e devemos seguir o seu exemplo para construir uma sociedade melhor do que a nossa.

Mas tudo tem um porém e este é dos maiores. Admito que é muito difícil criticar uma obra como A República dos Argonautas. Como apontar uma falha em um livro cujas intenções são tão nobres? Parece até um tipo de sacrilégio, uma violência como aquelas cometidas pelos militares. No entanto, esta falha existe sim - maniqueísmo. Enquanto desfia críticas e mais críticas aos “alienados políticos” ao longo do livro, a autora inadvertidamente repete o metiê de nove entre dez produções hollywodianas e divide o mundo entre mocinhos e vilões, como se a realidade política brasileira fosse apenas mais uma batalha na luta do “bem” contra o “mal”. Seus argonautas são todos perfeitos “heróis” da guerra contra a ditadura e os militares, por sua vez, “hárpias” burras interessadas apenas em fazer reprimir o “alegre” povo brasileiro. Não consegui deixar de notar quão artificial tal divisão soa – cheguei a me irritar em alguns trechos. Entendo que seja uma obra infanto-juvenil, mas acredito que enveredar pelo maniqueísmo deveria sempre ser a última opção, ainda mais quando se trata de adolescentes, radicais por natureza. O livro simplesmente ignora a existência de terroristas, mentirosos, militares “bons”, todos aqueles tons de cinza que compõe a maioria de uma população – e não o contrário. Ao optar por esta via, Anna Flora perdeu muito do meu respeito, porque utilizou-se das mesmas armas dos militares - um “Pra frente, Brasil!” de esquerda.

A conclusão é uma só: A República dos Argonautas tem muito valor sim, mas derrapa ao simplificar demais as coisas (como tudo o que foi produzido pela Indústria Cultural nos últimos anos). Não deixa de ser uma pena, mas esta é a realidade. Ao tornar seu livro “bonitinho” e digerível, Anna Flora vendeu sua alma simbolicamente. O próximo passo podia ser um desenho animado para as manhãs de sábado, uma lancheira com os argonautas, um Argos de brinquedo e talvez até mesmo um jogo de videogame... Parece piada, mas é isso que acontece quando se sacrifica o que existe de mais sagrado na arte, que é levantar questões e contestações INDEPENDENTEMENTE de “bonzinhos” e “mauzinhos”, pela necessidade implícita de um best-seller. Coisa que este livro com certeza é com seu público-alvo.

THE LAST DAY. O úrtimo dia. Para quem não entende inglês ou caipirês, eu disse que este é meu último dia aqui na OWL. Mas não estou destruído; já estava me preparando psicologicamente há duas semanas para estas fatídicas horas. Na verdade, estou até um pouco aliviado porque, como eu já havia dito aqui, uma Coceirinha Cinematográfica já estava se esgueirando por baixo da minha pele - aquele desejo instintivo de me expressar por imagens e som. Isso é muito bom, porque o oposto disso, a Preguiça da Película (marca registrada), às vezes me fazia pensar se havia escolhido a profissão certa. Vou tentar "colar" em dois diretores: Carlos Reinchenbach e Beto Brant. Wish me luck.
Na área relacional (para ficar mais chique), liguei para M2. Aparentemente, ela ficou muito feliz de eu ter ligado. Vou tentar combinar de assistir o Homem-Aranha no domingo com ela, já que o Sábado à noite está reservado para a S. Me sinto ligeiramente infiel com tudo isso, mas não estou namorando, então... Para começar, se ao menos tivesse sido infiel antes, teria matado a vontade com a G. no trabalho e NÃO teria terminado com a S. Essa é a dura verdade. "Ruim desejar outra, pior se conter e fazer besteira justamente com quem você ama".
Vou curtir a estória com M2 com muita calma. Tudo devagar, humano, longe de dissecações astrológicas e afins. Quero viver uma estória normal, pelo menos uma vez na vida. Algo me diz que essa pode ser a chance que eu estava pedindo há quase dois meses - alguém com cacife suficiente para me fazer desencanar da S. Oxalá.

16.5.02

Dá pra acreditar que a S. me ligou hoje no trabalho? Quando eu começo a sossegar (e finalmente pensar em outra mulher) ela vem e me liga... É foda, eu adoro a voz dela. O corpo dela. A jeitinho que ela pronuncia algumas palavras. Resultado: vamos sair Sábado à noite. "Eu quero fantasia" - ela disse. Vinho e poesias. Ah, essa mulher...
Quanto a M2, a jornalista, vou ligar para ela amanhã, eu acho. Não posso cometer o mesmo erro de sempre, que é suspender todo o resto por causa da S. Foi assim que eu acabei assim, com pouquíssimos amigos que de fato me ligam e praticamente NENHUMA amiga nova. Então vou ligar e ver o que acontece.
V. volta dia 24. Já tirei a segunda via da minha habilitação e ressuscitei a carteira antiga - um trambolho perto da que me foi roubada. As coisas estão ficando interessantes.

15.5.02

Rápido e rasteiro - como dizia o bom e velho Raimundo - fui assaltado no trânsito, ontem. O filha-da-puta do ladrão levou minha carteira e meu amado (sic) celular. Ah! a falta que você me faz, querido Nokia 8260... Perdi dezenas de números de telefone. E fiquei até a meia-noite na delegacia, assistindo Big Brother Brasil 2, a Revanche.
No entanto, preparem-se para algo bizarro. Na delegacia estavam três garotas:uma vítima, a irmã e a amiga. A amiga era uma deusa. Inteligente, sensual, simpática. E não é que eu saí da delegacia com o telefone dela?! Holy fuck! Atenção para as coincidências: no mesmo dia eu havia entrado pela primeira vez no site do IG e ela é JORNALISTA do IG. Eu havia dito para a S. me ligar em casa e falar que era a M2 (nome não-identificado) e o nome da garota ERA M2. E por aí vai. Nem eu acredito, para falar a verdade.
Será que o assalto fazia parte de um Plano Maior? Será que essa garota vai ser alguém importante na minha vida? Perguntas, perguntas, perguntas! Acho que Deus resolveu me ouvir (ou eu resolvi ouvir ele, sei lá).
E olhem só: ontem eu havia feito uma boa ação. O velhinho (sim, estou falando de Deus) está que nem aqueles cientistas malucos, elétricos no meio da madrugada, inventando alguma coisa que vai revolucionar o mundo. Estou ansioso para ver o que é.

MICRO-MINUTO-ESPIRITUAL: Obrigado, Deus, pela minha terça-feira. Tenho certeza de que tudo o que aconteceu tem uma razão - que é o bem maior. Obrigado, Pai. MICRO-MINUTO-ESPIRITUAL encerrado.

14.5.02

Vida louca / Vida breve / Já que eu não posso te levar / Quero que você me leve

Invoquei Lobão porque esse negócio que a gente chama de vida é realmente meio lunático. Não sei mais nada. Eu e S.? Um mistério dos mais misteriosos. Acho que estou num episódio do Além da Imaginação: nada faz sentido, e ao mesmo tempo, tem uma lógica interna totalmente distorcida. Se a vida é isso, beleza. Eu topo o desafio. Que venham S., V., M. e todas as outras que (por enquanto) eu ignoro. Não tenho medo de vocês, nem do Futuro. Porque, lá na frente, EU devorarei esse Futuro e ele será Passado. Assim seja.

13.5.02

Como que alguém exige distância em uma sexta-feira e liga no sábado à meia noite, "para saber como você está?" É por isso que essa mulher me deixa louco - ela é totalmente imprevisível. Eu nunca sei o que vai acontecer; se a gente vai se ver, se a gente vai ficar, se eu vou esquecer ela de vez. E o pior é que foi justamente por isso que eu me apaixonei. De qualquer forma, eu queria saber qual o karma que eu tenho com ela, para pelo menos saber o que eu fiz para merecer isso. Ia ser interessante.
Estou cada vez mais firme na decisão de viver a minha vida direito e simplesmente ser feliz - COM ou SEM ela. Mas não é nada fácil. Me desapegar de tudo o que a gente tinha (para não falar de sexo) está sendo mais difícil do que parar de respirar. Mas estou tentando. E, pelo menos, já consigo fazer as minhas coisas com uma relativa independência da zona que são os meus sentimentos... Yeah, feelings ARE a bitch.